Estudando o texto do Evangelho deste domingo (Lucas 11.5-8), gostaria de dizer desde o início que ele pode ser interpretado de duas maneiras. Se o lermos de forma direta, pode parecer que este texto trata de Deus, cansado de nossos pedidos. Ele realmente não quer nos ajudar, Ele quer descansar, mas nós batemos com tanta força em sua “porta celestial” que Ele é obrigado a acordar e responder às nossas orações e nos dar o que lhe pedimos.
Vamos ler esta história novamente:
Jesus disse
ainda: — Se um de vocês tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite, dizendo:
"Amigo, me empreste três pães, porque outro amigo meu chegou de viagem e
eu não tenho nada para lhe oferecer"; e se o outro lhe responder lá de
dentro: "Deixe-me em paz! A porta já está fechada, e eu e os meus filhos
já estamos deitados. Não posso me levantar para lhe dar os pães", digo a
vocês que, se ele não se levantar para dar esses pães por ser seu amigo, ele o
fará por causa do incômodo e lhe dará tudo de que tiver necessidade. (Lucas
11.5-8)
E
assim, novamente, olhando superficialmente, tendemos a entender esta história
de tal forma que o destinatário de nossas orações (Deus) dorme, mas se
continuarmos a bater em sua “porta celestial”, então, no final, por causa de
nossa “persistência”, Ele será obrigado a acordar e nos dar o que pedimos
(embora a palavra “pedir” pareça muito suave neste contexto).
Isso
seria possível? Seria possível que o Senhor, que nos amou e se humilhou até a
morte e morte na cruz (cf. Filipenses 2.8), que nos chamou de amigos (cf. João
15.15), prometeu ouvir nossas orações e respondê-las (cf. João 14.13)... Seria
possível Ele dizer a alguém que vem a Ele: “Deixe-me em paz!” (Lucas 11.7)?
E
é por isso que me parece tão interessante que o Evangelho não especifique quem
é quem nesta história. E o que nos impede então de ser um pouco mais sábios
para entender esta história de forma diferente? E se for Deus, nos
tendo como seus amigos (cf. Lucas 11.5), que veio até nós e bate à nossa porta
(cf. Apocalipse 3.20), mas estamos dormindo e não queremos deixá-lo entrar?
Suponhamos
que algum de vocês, tendo um amigo, vá até ele à meia-noite e lhe diga: “Amigo,
me empreste três pães”, e ele, lá de dentro, lhe responda: “Deixe-me em paz! (Lucas
11.5,7a). O que nos impede de ver Deus neste visitante invasivo da meia-noite?
Deus está à nossa porta e bate porque Ele espera que abramos para Ele, mesmo
que não seja imediatamente, e pelo menos após sua “persistência” nós lhe
daremos o que ele quer de nós.
Você
entende? É Deus quem vem e vem até nós, tenta alcançar nossos corações de pedra
(cf. Ezequiel 11.19), não nos deixa sozinhos dia e noite e intrusivamente tenta
nos salvar (1Timóteo 2.4). E somos nós quem constantemente lhe responde: Deixe-me
em paz! Não me incomode, tenho trabalho, e filhos, e muita correria de todo
tipo, e preciso descansar; não tenho tempo para você e sua Igreja, Deus, não
posso me levantar e te atender (cf. Lucas 11.7).
Não se parece conosco? Não é
assim que muitos de nossos membros responderam a Deus hoje, “deixe-me em paz!”,
embora Ele tenha preparado o “grande banquete” da salvação (cf. Lucas 14.16)
para eles em sua igreja?
Se todos os nossos membros decidissem ir à liturgia, ao Culto Divino, não haveria lugares suficientes, alguns teriam que ficar em pé. Mas não, muitos daqueles que se denominam cristãos não atendem a Deus, não abrem a sua porta para Ele, embora ele tenha e tem ficado em pé e batido nela.
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