Assim afirma a Fórmula de
Concórdia, Declaração Sólida, Art. VII, da pessoa de Cristo:[1]
“[27] Agora, porém, uma vez que subiu ao céu não simplesmente como qualquer outro santo, mas, como o apóstolo testifica, subiu acima de todos os céus, também verdadeiramente preenche todas as coisas, e, presente em toda parte, governa de um mar ao outro e até os confins da terra, não só como Deus, mas também como homem, como os profetas predizem e os apóstolos testificam que, por toda parte, cooperou com eles e lhes confirmou a palavra por meio de sinais, que se seguiam. [28] Isso, porém, não se deu de maneira terrena, mas, como o Dr. Lutero explica, segundo o modo da mão direita de Deus. A mão direita de Deus não é lugar específico no céu, como alegam os sacramentários,[2] sem fundamento da Escritura Sagrada. Pelo contrário, não é nenhuma outra coisa senão o poder onipotente de Deus, que preenche o céu e a terra, no qual Cristo foi investido segundo a sua humanidade, realiter, isto é, de fato e de verdade, sine confusione et exaequatione naturarum, isto é, sem mistura e igualamento das duas naturezas na essência e propriedades essenciais delas. [29] Por causa desse poder transmitido, Cristo verdadeiramente pode estar e está presente na santa ceia, com seu corpo e sangue, conforme as palavras de seu testamento, para as quais ele nos apontou por meio de sua palavra. Isso não é possível a nenhum outro ser humano, porque nenhum outro ser humano está unido com a natureza divina nem foi investido de tal majestade divina, onipotente, e de tal poder, pela união pessoal e na união pessoal de ambas as naturezas em Cristo, como acontece com Jesus, o filho de Maria. [30] Nele, a natureza divina e a natureza humana estão pessoalmente unidas, de modo que em Cristo ‘habita corporalmente toda a plenitude da divindade’ (Cl 2[.9]). Nessa união pessoal, as duas naturezas têm comunhão tão excelsa, íntima e indescritível, que até os anjos ficam admirados e, conforme São Pedro testifica, se deliciam e se alegram em contemplar”.
Colocando isso em outras palavras, conforme explicado acima, a ascensão de Cristo ao céu, não foi como a de qualquer outro santo. Ao contrário, ele subiu acima de todos os céus e, como o apóstolo testifica, preenche todas as coisas (Ef 4.10). Essa ascensão significa que Cristo governa de modo onipresente, não apenas como Deus, mas também como homem. Esse governo é descrito de forma clara pelas Escrituras, com Cristo confirmando a palavra dos apóstolos por meio de sinais que se seguiram à sua ascensão (Mc 16.20).
Dizer que Cristo está à "direita de Deus" não é dizer que ele se localiza em um espaço físico no céu, como argumentam alguns, mas sim que ele está investido no poder onipotente de Deus, que preenche o céu e a terra (Hb 1.3). Lutero explica que a mão direita de Deus não é um lugar específico, mas o poder divino. Assim, Cristo, em sua humanidade, recebeu esse poder sem confusão ou mistura de suas duas naturezas, divina e humana (Cl 2.9).
Por causa desse poder divino, Cristo pode estar verdadeiramente presente na Santa Ceia com seu Corpo e Sangue, conforme ele mesmo prometeu em seu testamento (Mt 26.26-28). Essa presença real não é possível para nenhum outro ser humano, já que nenhum outro está unido à natureza divina da forma que Cristo está. Somente Jesus, o Filho de Maria, pela união pessoal de suas duas naturezas, pode estar presente de maneira tão excelsa, como atestado pelas Escrituras, que dizem que "nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Cl 2.9 - NAA).
Portanto, a ascensão de Cristo ao céu e sua presença na Ceia do Senhor são possíveis porque ele governa de modo divino, investido de poder, sem confusão de suas naturezas, e cumpre suas promessas de estar presente em todas as coisas, inclusive e de forma mais que especial, no Sacramento da Ceia (Mt 28.20).
[1] Livro de Concórdia, 2021, página 667
[2] Os sacramentários viam os elementos da Ceia como símbolos ou representações da presença espiritual de Cristo. Entre os mais proeminentes sacramentários estavam Ulrico Zuínglio e João Calvino, que promoviam a ideia de que o pão e o vinho eram símbolos que apontavam para Cristo, mas não continham a sua presença corporal.
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