quarta-feira, 2 de outubro de 2024

O Culto Luterano: o processional

   
Processional em Culto no Seminário Concórdia

    Todo culto ou evento precisa de um início. A maneira como algo começa define o clima e o tema do que está por vir. Um exemplo famoso é a abertura dos filmes de Guerra nas Estrelas, que sempre começa com a frase: “Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante”, seguida do logotipo de Guerra nas Estrelas e uma introdução que contextualiza a história daquele filme específico. Essa abertura prepara o clima e as expectativas para o filme que está por vir. Da mesma forma, todo culto tem um rito de entrada. Ele é essencial para definir o clima e o tom para o restante do culto.
    Em algumas igrejas, o culto começa com o pastor dando as boas-vindas e com uma banda de louvor tocando. Embora esses elementos não sejam vistos formalmente como um “rito de entrada”, eles indicam o início do culto. A maneira como o culto começa influencia a expectativa e a direção para o restante da celebração. Em um culto litúrgico, o rito de entrada inclui três elementos principais: o hino de abertura, a procissão e a invocação.

O Hino Processional
    Em muitas igrejas modernas, as músicas são frequentemente agrupadas em um bloco de “louvor e adoração” no início do culto. No entanto, nas igrejas litúrgicas, os hinos são distribuídos ao longo da liturgia. O primeiro deles, chamado de “hino processional”, marca o início do culto. Outros hinos são entoados antes do sermão, após a bênção e, em alguns casos, durante a distribuição da Santa Ceia. A seleção desses hinos segue o calendário litúrgico, sempre refletindo o tema das leituras e do sermão. O hino processional representa o momento em que a congregação deixa para trás as preocupações da vida cotidiana e adentra a presença de Deus, onde o céu e a terra se encontram. Durante este hino, é costume que a congregação permaneça de pé, em sinal de reverência a Deus e reconhecimento da santidade do momento.
    Ao entrarmos na igreja, é como se estivéssemos em um mundo à parte. Pelo Santo Batismo, somos filhos de Deus e herdeiros dos céus. Assim, ao adentrar a igreja, entramos em um lugar onde nós, como filhos batizados que já possuímos a vida eterna por meio de Cristo, viveremos junto com “anjos e arcanjos, e com toda a companhia celeste” (Hebreus 12.22-24). Estaremos diante de Cristo, seja nos céus quando partirmos deste mundo, seja na Nova Jerusalém, quando testemunharmos a tão esperada volta de Cristo a este mundo (Apocalipse 21.1-4).
    Esse pensamento é consolador, pois já aqui, neste mundo, temos a oportunidade de experimentar aquilo que faremos após a morte: adorar o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, rendendo louvores ao seu santo nome. Como é reconfortante saber que, a cada semana, podemos ter um vislumbre do que é o céu! Como é maravilhoso poder nos desligar deste mundo imperfeito e repleto de pecado e, ao entrar na igreja (um pedaço do céu), entregar a Jesus todas as nossas dificuldades e angústias – sabendo que no céu não haverá mais sofrimento, e sair de sua casa com os ombros mais leves. Pois, onde está Jesus, ali também está o céu.
    Afinal, quer saber o que você fará quando deixar este mundo ou quando Jesus voltar em glória? Vá ao culto. Se você deseja passar a eternidade com Cristo, certamente não se recusará a dedicar 1 ou 2 horas por semana para já começar a viver essa realidade maravilhosa.

O Processional
    Durante o hino processional, o pastor e seus auxiliares processam (caminham) até o altar. Essa procissão geralmente inclui um acólito (quem acende e apaga as velas), leitores e outros oficiantes ou auxiliares. Às vezes, o coral da igreja também participa. A procissão simboliza o povo de Deus se reunindo e caminhando em direção ao altar, que é o ponto central do culto. Ao caminhar, a atenção da congregação se volta para o altar, onde Deus encontra seu povo.
Processional na Paróquia Castelo Forte
de Itueta - MG, em 27/06/2021
    As procissões recordam como as multidões seguiram ou receberam Jesus em suas jornadas, especialmente no Domingo de Ramos. Além disso, elas simbolizam a entrada de Cristo para realizar seu
serviço ao povo (Lucas 22.27), por meio do Santo Ministério. Se uma procissão for utilizada, é importante escolher um hino de entrada com um ritmo claro para que os participantes possam caminhar em um ritmo confortável. Ao planejar uma procissão, a ordem dos participantes comunica a importância do evento. A procissão começa com a cruz processional, que simboliza que a Igreja Cristã segue o Senhor. O cruciferário, que é quem carrega a cruz, caminha deliberadamente, nem muito devagar, nem muito rápido. A cruz deve ser carregada em posição vertical, preferencialmente com uma mão segurando o bastão da cruz ou tocha ao nível do rosto e a outra mão segurando o bastão ao nível da cintura. Tanto a cruz quanto as tochas devem ser elevadas acima do nível dos olhos da congregação que está em pé.
    Não existe uma regra fixa sobre a ordem de entrada. Normalmente, a sequência costuma ser a seguinte: cruciferário, leitores, acólitos, oficiantes auxiliares (se houver) e o pastor celebrante principal, que é aquele que irá celebrar a Liturgia da Santa Ceia. É muito comum também que, em cultos festivos, onde há a presença de muitos pastores, eles entrem em dupla. Isso não está errado, mas é importante que aquele que irá liderar a liturgia, ao chegar no altar, fique no meio, para garantir uma boa dinâmica e evitar movimentações desnecessárias durante a celebração litúrgica.
    Ao longo dos séculos, a tradição de ter uma cruz processional e uma cruz fixa no altar se consolidou, destacando a importância da morte expiatória de Cristo no culto cristão. Muitas igrejas também possuem uma cruz ou crucifixo na parede atrás do altar. Ao final da procissão, o pastor e todos que participaram do processional fazem uma reverência diante do altar, em sinal de respeito a Cristo. Para alguns, isso pode parecer uma adoração ao altar, mas, na verdade, é um gesto de reverência a Deus, que está presente no altar. Este é o local onde Cristo se faz presente com Seu verdadeiro Corpo e Sangue, unidos ao pão e ao vinho. Ao entrar no culto, os fiéis na terra se curvam assim como os seres celestiais se curvam diante do trono do Cordeiro (Apocalipse 5.8-14).

+ Rev. Filipe Schuambach Lopes

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