POR QUE É ESSENCIAL QUE NOSSAS
CRIANÇAS FREQUENTEM A IGREJA[1]
No cancioneiro “Louvai ao Senhor”, o hino 71 expressa: “Como eu amo o teu templo, como é bom vir aqui.” Estar na igreja é bom. Não importa o quão cansados, distraídos ou indiferentes nos sentimos, quando vamos à igreja, nos colocamos no lugar onde Deus prometeu agir. Ouvimos a Lei e o Evangelho. Recebemos o corpo e o sangue de Cristo, dados por nós. São Paulo nos diz para não “[deixarmos] de congregar, como é costume de alguns” (Hb 10.25). Uma das bênçãos de nos reunirmos é o tempo que passamos com outros cristãos de todas as idades.
Os inimigos de Deus entendem que congregações comprometidas com a Palavra e os Sacramentos são extremamente eficientes em transmitir a fé às próximas gerações. Na Rússia Soviética, por exemplo, isso se tornou um grande desafio para o governo de Nikita Khrushchev[2]. Os soviéticos já haviam deportado milhares de pastores, padres e outros cristãos para trabalhar forçadamente e morrer nos Gulags.[3] No entanto, para manter a ilusão propagandista de que a URSS era o país mais livre do mundo, eles permitiram que algumas congregações continuassem a existir, mas sob estrita vigilância. Ao mesmo tempo, proibiram a participação de crianças nos cultos, numa tentativa de enfraquecer e neutralizar a influência da igreja sobre as gerações futuras.
Que ironia que, nas últimas décadas, os cristãos brasileiros também têm se afastado da igreja por conta própria. Desde o início dos anos 2000, o número de membros das igrejas tradicionais no Brasil começou a diminuir consideravelmente; hoje, aqueles que frequentam regularmente os cultos dominicais são uma minoria. O êxodo é ainda mais acentuado entre os jovens. No Brasil, não foi necessário um regime autoritário para afastar as crianças da igreja. Muitas congregações estão cheias de adultos mais velhos cujos filhos e netos já não participam mais. Estar numa minoria pode ser desafiador. Isso leva à pergunta tentadora: Se nossos filhos são os únicos jovens na igreja, será que realmente vale a pena todo o esforço de levá-los até lá?
Sim, a resposta é sim. Levar, cuidar e vestir as crianças pequenas para o culto é uma tarefa difícil. Ensiná-las a ter reverência e respeito é trabalhoso e, às vezes, até constrangedor. Mas é justamente por isso que ir à igreja com a família se torna uma poderosa confissão de fé. Porque, apesar da dificuldade, o simples fato de fazermos esse esforço ecoa, em pequena escala, a confissão dos mártires cristãos que sofreram a morte por Cristo. É uma oportunidade de testemunhar para o nosso próximo, nossos filhos e até para nós mesmos que Jesus vem ao nosso encontro aqui na terra — e que precisamos dEle.
Não caia na mentira de que as crianças “não vão entender nada” do culto porque “não compreendem” a liturgia ou o sermão. Nossos filhos não precisaram entender a teologia do Batismo para que Deus os redimisse do pecado. Nosso Senhor Jesus age através de sua Palavra — e certamente queremos cercar nossas crianças com essa Palavra o máximo possível. Além disso, as crianças são mais inteligentes do que muitos adultos acreditam. Quando elas ouvem as Escrituras, os hinos e os credos regularmente, têm a chance de refletir sobre essas palavras e guardá-las em seus corações.
A frequência aos cultos molda e ensina nossos filhos de outra maneira também. Hábitos e comportamentos são incrivelmente formativos. Quando colocamos nossos filhos em capacetes e cadeirinhas de segurança de forma consistente, estamos ensinando-os a valorizar a segurança. Quando lhes servimos alimentos saudáveis regularmente, estamos ensinando-os a apreciar uma boa alimentação. Da mesma forma, ao levá-los à igreja constantemente, ensinamos que eles precisam de Jesus e que Jesus é para eles. Ele nos disse para deixar as crianças virem até ele — e ele quis dizer isso (Mc 10.14).
O desafio, é claro, é que crianças na igreja podem ser agitadas. Espero que sua congregação as receba de braços abertos, apesar disso. Na minha igreja, um dos membros, um senhor mais velho sempre ri com carinho quando vê crianças pequenas sendo travessas. “Lembra eu nessa idade”, ele sempre diz. Felizmente, aprendem com facilidade. Ensiná-las é um investimento valioso. Como mãe de cinco filhos, gostaria de compartilhar algumas das estratégias de ensino e expectativas que têm funcionado bem para minha família na igreja.
Em vez de apenas tentar mantê-los quietos, envolvemos até mesmo nossos bebês no culto e, à medida que crescem, exigimos uma participação adequada à idade. Crianças que estão ativamente envolvidas na liturgia tendem a ser muito menos barulhentas de forma inadequada.
1. Ensinamos que a igreja é especial e exige um comportamento especial.
Para ajudar as crianças a entenderem a importância do culto, fazemos do dia de culto uma ocasião especial. Começamos o dia com um café da manhã diferente — algo que elas gostam, é rápido e tem bastante proteína para mantê-las satisfeitas até o final da manhã. Isso geralmente inclui mingau de aveia assado ou ovos com bacon. Também vestimos as crianças com roupas mais elegantes, o que ajuda a criar um clima diferente. Mesmo os meninos pequenos gostam de saber que estão bem-vestidos. E, claro, a maioria das congregações perdoa qualquer travessura de um bebê usando gravata borboleta!
Antes de entrar na igreja, lembramos as crianças de que vamos usar nosso “comportamento de igreja”. Explicamos o que isso significa: ficar voltados para a frente para ver o pastor, evitar distrair os outros, manter o corpo calmo, mãos no lugar e participar do culto.
2. Usamos nossos corpos para participar.
Uma das primeiras coisas que ensinamos aos nossos bebês na igreja é juntar as mãos para a oração. Isso pode parecer algo simples, mas dá às crianças um ponto de referência no culto. Elas já estão acostumadas com isso em casa, e repetir na igreja as ajuda a prestar mais atenção no que o pastor está dizendo, mesmo que seja apenas para ouvir o “amém”. Isso as lembra de que fazem parte da congregação e que o culto também é para elas.
Do mesmo modo, ensinamos nossos filhos a se sentarem quando a congregação se senta e a ficarem de pé quando todos se levantam. Mesmo com as pernas curtas, deixamos que eles fiquem em pé no banco durante as Palavras da Instituição, para que possam ver. À medida que crescem, ensinamos hinos e credos em casa, para que possam cantar junto com a congregação.
3. Lanches simples, não Oreo.
Ficar sentados durante todo o culto vai contra os instintos naturais de uma criança pequena. Para tornar isso mais fácil, levamos uma pequena sacola com itens especiais que eles podem usar durante o sermão: brinquedos silenciosos, livros interativos ou lápis, giz de cera e papel funcionam bem. Este também é um bom momento para oferecer um lanche.
No entanto, queremos que, à medida que cresçam, aprendam a ouvir o sermão em vez de esperarem sempre por um entretenimento. Por isso, os brinquedos e lanches que oferecemos são simples e “infantis”, para que fiquem desinteressantes com o tempo. O mais velho não vai ficar com ciúmes quando dissermos que ele não precisa dos biscoitos de sal velhos da sacola, diferente do que seria se fosse Oreo.
4. É aceitável exigir um comportamento razoável dos seus filhos.
Alguns pais têm medo de que exigir um bom comportamento na igreja crie ressentimento e leve as crianças a odiá-la. No entanto, é dever dos pais ensinar as crianças a se comportarem no mundo. Nós as obrigamos a escovar os dentes, usar cinto de segurança, dizer “obrigado” e sair do parquinho quando chamamos. Da mesma forma, podemos exigir autocontrole na igreja e impor consequências quando necessário. O objetivo não é perfeição. Algumas crianças acharão o culto mais desafiador do que outras, e isso é normal. O que importa é que ir à igreja é bom.
Nenhum de nós sabe o que o futuro reserva. Um dia nossos filhos enfrentarão tristezas, tentações e, talvez, até perseguições. Não podemos controlar como eles reagirão. Mas o que podemos fazer é testemunhar hoje que as respostas que eles precisam estão em Cristo. Fazemos isso a cada semana quando os levamos à igreja para receber as dádivas de Cristo e participar da comunhão dos santos. Estar na igreja é bom.
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[1] O texto a seguir é uma tradução e adaptação do artigo “Taking Your Children to Church: A Powerful Confession of the Faith” escrito por Anna Mussmann e publicado pela The Lutheran Witness. Você pode acessá-lo em https://witness.lcms.org/2024/taking-your-children-to-church-a-powerful-confession-of-the-faith/?fbclid=IwY2xjawF0r91leHRuA2FlbQIxMQABHdlprjeTF2VlN2a_KpWB9gLEOESyGQLcwUI1SI6iNkg6uhODc1jsS1JfkQ_aem_04oL-T5eY62ZkMjVE04TZw.
[2] Nikita Khrushchev foi um político e líder soviético que desempenhou um papel significativo na história da União Soviética durante a Guerra Fria.
[3] Os Gulags foram um sistema de campos de trabalho forçado na União Soviética, que se tornaram notoriedade durante o regime de Joseph Stalin, especialmente entre as décadas de 1930 e 1950. O termo “Gulag” é um acrônimo para “Glavnoe Upravlenie Lagerei”, que significa “Administração Principal dos Campos”.
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