segunda-feira, 14 de abril de 2025

“Um Rei diferente” – João 12.20-43 | Homilia para o Domingo de Ramos


Em nome de + Jesus, o Bendito que vem em nome do Senhor. Amém.

Jerusalém estava em clima de festa. Era época da Páscoa, e a cidade estava cheia de gente. Pessoas de todas as partes tinham subido para adorar a Deus no templo. E, entre tantos assuntos, um nome se destacava nas conversas: Jesus. O mesmo que havia ressuscitado Lázaro, curado doentes, multiplicado pães e peixes. Agora, ele se aproximava da cidade.

O povo foi ao seu encontro, animado, com ramos de palmeiras nas mãos, gritando com alegria: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel!” (Jo 12.13). Era uma cena bonita de se ver. Só que, por trás dessa alegria, havia também muita confusão sobre quem Jesus realmente era.
Afinal, que tipo de rei aquele povo esperava?

Eles queriam um líder forte, que tirasse os romanos do poder. Esperavam alguém que trouxesse liberdade política, segurança, prosperidade para Israel. Sonhavam com um rei vitorioso, com exércitos, um trono e uma coroa. Queriam alguém que resolvesse os problemas do dia a dia — os problemas imediatos da vida: segurança, pão, estabilidade, prosperidade. Alguém que tornasse a nação de Israel grande de novo.

Só que, naquele dia, quem foi o Rei que realmente entrou em Jerusalém?

Jesus veio montado em um jumentinho. Um animal simples, usado por pessoas humildes. Um sinal claro de que Ele não era um rei como os outros. Ele não entra com espadas, mas com mansidão. Não com tropas, mas com humildade. O jumentinho era o animal dos pobres, dos pacíficos. Assim, podemos ver que Jesus não vem para conquistar pela força... não... mas para atrair pela cruz. Ele não entra para ocupar um trono de pedra, mas para se entregar em um madeiro. E, mesmo ouvindo os gritos de alegria, Jesus sabia o que estava por vir. Tanto que ele disse:
“Agora a minha alma está angustiada, e o que direi? ‘Pai, salva-me desta hora’? Não, pois foi precisamente com este propósito que Eu vim para esta hora. Pai, glorifica o Teu nome.” (Jo 12.27-28)
O povo via glória. Jesus via cruz. O povo esperava vitória. Jesus anunciava entrega. O povo gritava “Hosana!” — que quer dizer, como ouvimos no Salmo 118: “Oh! Salva-nos, Senhor, nós te pedimos!” (Sl 118.25). Mas eles não compreendiam que a resposta àquela oração viria de forma dolorosa. Jesus sabia que o caminho diante dEle era difícil. Ele sentia medo, dor, angústia. Ele não escondia isso. Mas, mesmo assim, Ele não fugiu. Ele permaneceu firme, porque veio justamente para essa hora. Para essa missão. Ele veio para nos salvar.

E tudo isso, Jesus fez por nós!

Ele entrou em Jerusalém por mim e por você. Cada passo daquele jumentinho o levava mais perto do Gólgota. Cada “Hosana” gritado pelo povo soava, para Jesus, como um eco do “Crucifica-o” que viria em poucos dias. Mas Ele não recuou. Mesmo angustiado, não fugiu. Mesmo sendo o justo, não se justificou. Mesmo sendo Senhor, Ele se fez servo.

Amados, Jesus está entrando em Jerusalém. O Rei está chegando à cidade santa. Os ramos se agitam. As pessoas cantam. Tudo parece triunfal.

E é fácil seguir um Rei que entra assim. Um Rei recebido com festa, com honra, com alegria. Um Rei que parece forte, vitorioso, invencível.

Mas... e quando o Rei chora?
E quando o Rei está angustiado?
E quando Ele se cala diante da injustiça, quando Ele permite ser traído, julgado e condenado?
Quando Ele não se defende? Quando Ele se entrega?
Você seguiria um Rei assim?

É difícil crer num Rei que vai morrer.
É difícil confiar quando o caminho dEle vai na direção da cruz.

E, ainda assim, esse mesmo Rei nos convida:
“Se alguém me serve, siga-me.” (Jo 12.26)
Seguir Jesus é aceitar caminhar com ele mesmo quando o caminho leva à cruz. É continuar ao lado dEle quando a multidão se dispersa. É confiar, mesmo quando tudo parece escuro. E é preciso coragem para isso. Seguir Jesus é dizer: “Senhor, eu não entendo tudo, mas eu confio em ti. Eu vou contigo.”

Mas vale a pena. Porque esse Rei que vai à cruz é o mesmo que nos atrai com amor. Ele mesmo disse:
“E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim.” (Jo 12.32)
Esse “ser levantado” é a cruz. É o momento mais vergonhoso aos olhos do mundo, mas o mais glorioso aos olhos do céu. É ali - no levantar da terra - que Cristo atrai você. É ali que ele responde ao seu “Hosana!”. É ali que ele te salva. A pedra que os construtores rejeitaram — como vimos na semana passada — tornou-se a pedra angular (Sl 118.22). É sobre ele que tudo se sustenta. E isso “é maravilhoso aos nossos olhos” (v.23).

Por isso, nesta Semana Santa, somos convidados a parar. A silenciar o coração. A olhar com mais atenção para esse Rei. A deixar as vozes do mundo e as falsas expectativas de lado e ouvir de novo o chamado dEle. Esta é a semana em que Jesus caminha rumo à cruz. E Ele não vai sozinho — Ele convida os seus a segui-lo. Ele nos convida a caminhar com ele, passo a passo, até o Calvário. Porque é lá que acontece o que pedimos quando oramos “Hosana”. É lá que somos salvos.

E, em breve, na liturgia da Santa Ceia, cantaremos de novo: “Hosana nas alturas!”. E, ao cantarmos, não estaremos apenas repetindo uma tradição litúrgica. Estaremos fazendo uma petição – um pedido. Estaremos clamando: “Oh! Salva-nos, Senhor, nós te pedimos!”. E este Rei, o mesmo que entrou em Jerusalém por nós, é o mesmo que vem ao nosso encontro aqui e agora, na Palavra, no Santo Sacramento de sua Ceia, na comunhão da Igreja. Ele responde ao nosso clamor, não com promessas vazias, mas com a entrega do seu próprio Corpo e Sangue.

Este é o dia que o Senhor fez. Alegremo-nos e exultemos nele (Sl 118.24), pois o Rei chegou. E ele veio para salvar. Não como esperávamos, mas como precisávamos. E porque ele foi até a cruz, agora podemos ter certeza: nosso “Hosana” foi ouvido.

Que, nesta semana, você tenha coragem. Coragem para seguir o Rei que vai à cruz. Coragem para reconhecer que é ali — e só ali — que encontramos a vida verdadeira. E que, ao chegarmos à Sexta-feira Santa, possamos lembrar: tudo isso foi por nós. Tudo isso foi por amor.

Que o Senhor nos abençoe com fé, arrependimento e coragem. Que assim seja. Amém.

+ Rev. Filipe Schuambach Lopes
13/04/2025

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