quarta-feira, 13 de agosto de 2025

“Com toda a companhia celeste”: Anjos, Santos e nossos entes queridos falecidos na Mesa do Senhor



“COM TODA A COMPANHIA CELESTE”:
ANJOS, SANTOS E NOSSOS ENTES QUERIDOS FALECIDOS NA MESA DO SENHOR

Por Arthur A. Just
Tradução: Rev. Filipe Schuambach Lopes

No Monte da Transfiguração o céu e a terra se uniram no corpo glorificado de Jesus. Pedro, Tiago e João, três dos discípulos de Jesus, subiram com Ele ao monte para esse encontro com Moisés e Elias, dois seres celestiais. Nessa comunhão entre corpos celestiais e terrenos ao redor do corpo branco e resplandecente de Jesus, vemos uma imagem do que acontece no Culto Divino, ao redor da presença física de Jesus, na liturgia da Palavra e na Ceia do Senhor.

Nesse encontro glorioso Pedro, Tiago e João puderam ouvir a conversa celestial de Moisés e Elias. E qual era essa conversa? Moisés e Elias, vindos do céu, certamente falavam sobre o êxodo que Jesus estava para cumprir em Jerusalém, que é o seu sofrimento, morte, ressurreição e ascensão. Pois esse é o cântico de todo o céu, louvores ao Cordeiro que foi morto e vive outra vez (Apocalipse 5). É isso que nossas liturgias devem sempre proclamar, que o Cristo glorificado e ascendido está presente entre nós com suas feridas para nos oferecer os dons do seu êxodo, que são perdão, vida e salvação.

Quando vamos ao Culto Divino para ouvir a Palavra de Jesus e comer o seu corpo e sangue, estamos entrando na Jerusalém celestial. E assim não estamos sozinhos na comunhão com a presença física de Jesus. Como diz a nossa liturgia, adoramos “com os anjos e arcanjos e com toda a companhia celeste”. Essa “companhia celeste” inclui todos os santos que morreram em Cristo e agora vivem com Ele.

Na Ceia do Senhor nos unimos a um mundo além de nós, recebemos dons do céu na carne de Jesus. Aceitamos o grande mistério de que o céu vem à terra por meio da presença física do nosso Salvador. Muitas vezes pensamos no céu de forma abstrata, como se fosse “lá em cima”. Mas o céu é onde Jesus está, onde a sua Palavra e seus dons são recebidos pela fé. Como Jesus está presente entre nós nos dons da Palavra e do Sacramento, o próprio céu está presente entre nós. Nosso culto é o mundo de “anjos e arcanjos e toda a companhia celeste”. Essas palavras da liturgia vêm de Hebreus 12.22-24:

Pelo contrário, vocês chegaram ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a milhares de anjos. Vocês chegaram à assembleia festiva, a igreja dos primogênitos arrolados nos céus. Vocês chegaram a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o sangue de Abel.

A chegada ao monte Sião, à presença de Deus, já começou aqui na terra. O monte Sião, a cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, não é um lugar específico em Israel, é onde Cristo está presente, com sua natureza divina e humana. O que os ouvintes do primeiro século pensaram ao ouvir essa passagem? Eles sabiam que “monte Sião” era o lugar onde Cristo fala e age pelo Pai. Esse lugar é a liturgia, onde a Palavra de Cristo traz a purificação dos pecados pela pregação e pela Ceia do Senhor. Ao entrarmos na presença de Deus em Jesus, o céu na terra já começa agora na vida eucarística da Igreja, mesmo que só alcance sua plenitude quando vivermos totalmente a presença de Cristo na festa celestial. Como vemos no Monte da Transfiguração e no monte Sião, a liturgia da Palavra e do Sacramento é o momento em que o céu vem à terra.

Nossa liturgia traz outra referência do Novo Testamento para descrever essa realidade do céu na terra, no hino que cantamos no tempo pascal, “Esta é a Festa”.[1] O conteúdo desse grande hino vem do Apocalipse de João. Esse hino de toda criatura que agora cantamos como povo de Deus é também o cântico das hostes celestiais, dos santos junto ao mar de vidro com harpas de Deus nas mãos, o cântico de Moisés e do Cordeiro, que anunciam vitória sobre a besta (Apocalipse 15.2-5). É também o cântico da multidão nas bodas do Cordeiro (Apocalipse 19.1-10). Nesse hino de vitória o céu e a terra se unem cantando “Honra, graças, glória e poder ao Cordeiro e a Deus para sempre.”. E o céu e a terra também cantam juntos “Amém”. Nossa comunhão com o céu aqui na terra é expressa de forma linda na última estrofe do hino, “o Cordeiro que morreu começou o seu Reino. Aleluia.” O início do reinado do Cordeiro é o contínuo banquete vitorioso da Palavra e do Sacramento que os cristãos celebram desde o primeiro Pentecostes e continuam celebrando até hoje.

Por muitos anos, ao falar sobre a liturgia histórica nas congregações, eu dizia às pessoas sobre “os anjos, arcanjos e toda a companhia celeste”. Era surpreendente ver quantas nunca tinham ouvido o real sentido dessas palavras, como em toda Ceia do Senhor minha esposa e eu lembramos da irmã dela que morreu tragicamente aos 22 anos. Como lembramos daqueles que faleceram recentemente e que conhecemos. Como eles estão conosco em Cristo. Como nossas vozes aqui na terra se unem às deles no céu quando cantamos “Santo, santo, santo é o Senhor Deus dos Exércitos, o céu e a terra estão cheios da tua glória”. Como, na comunhão dos santos, temos essa união misteriosa com Cristo e com todos os santos que morreram e agora vivem em Cristo. Como a luta deles acabou, o sofrimento cessou e, como nós, aguardam a ressurreição do corpo. Como, enquanto esperamos o Senhor voltar, continuamos em comunhão com eles. Como o mesmo Cristo em quem eles habitam também habita conosco no seu corpo e sangue. Como Cristo, cuja presença entre nós traz todo o céu com ele, é o centro da adoração no céu e na terra. Pois o “sangue da aspersão [...] fala melhor do que o sangue de Abel.” (Hb 12.24) porque “digno é o Cristo, Cordeiro e Senhor, cujo sangue libertou o povo de Deus… O Cordeiro que morreu começou o seu Reino. Aleluia.”

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[1] Temos a versão deste hino em português, traduzida pelo pastor Martim Carlos Warth. Não há informação sobre a data em que essa tradução foi feita. Disponibilizo abaixo a partitura e a versão original em inglês, bem como o texto em português.

Texto em português (tradução de Martim Carlos Warth):

Esta é a festa da vitória do nosso Deus.
Aleluia, aleluia, aleluia!

1. Digno é o Cristo, Cordeiro e Senhor;
seu sangue libertou o povo de Deus.
Esta é a festa da vitória do nosso Deus.
Aleluia, aleluia, aleluia!

2. Tem saber, riqueza, poder;
dai honra, graças e glórias a Deus.
Esta é a festa da vitória do nosso Deus.
Aleluia, aleluia, aleluia!

3. Cante todo o povo de Deus
com todo o louvor da criatura:
4. honra, graças, glória e poder
ao Cordeiro e a Deus, para sempre. Amém.

Esta é a festa da vitória do nosso Deus.
Aleluia, aleluia, aleluia!

5. O Cordeiro que morreu
começou o seu Reino. Aleluia!

Esta é a festa da vitória do nosso Deus.
Aleluia, aleluia, aleluia!





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