quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Comemoração de Agostinho de Hipona, Pastor e Teólogo - 28 de agosto

 

Agostinho, Bispo de Hipona, 430

Aurelius Augustinus, geralmente conhecido como Santo Agostinho, nasceu na cidade de Tagaste, hoje conhecida como Souk Arrhas, na Argélia, em 13 de novembro de 354. Sua mãe, Mônica, era cristã e tentou criá-lo na fé cristã, mas sem sucesso. Ele frequentou a escola em Cartago, onde foi um estudante sério, mas acabou se convertendo ao maniqueísmo, uma religião dualista de origem persa que era popular na época. Ele teve um filho com uma concubina, a quem deu o nome de Adeodato ("Presente de Deus").

Em algum momento depois de 383, Agostinho foi para Roma, onde ensinou retórica e continuou seus estudos. Em 384, ele foi para Milão para lecionar, e lá foi gradualmente atraído para a fé católica. Primeiro, ele abandonou o maniqueísmo para estudar o neoplatonismo e, depois, caiu sob a influência de Santo Ambrósio, o Bispo de Milão. Após uma grande luta interna, suas dúvidas foram dissipadas, e Ambrósio o batizou na Vigília Pascal de 387. Sua mãe faleceu enquanto os dois estavam a caminho de volta ao Norte da África. Lá, Agostinho viveu uma espécie de vida monástica por vários anos com um grupo de amigos. Em 391, durante uma visita à cidade de Hipona, foi escolhido contra sua vontade pelos cristãos locais para ser seu pastor. A partir de então, Hipona se tornou sua residência até sua morte. Ele foi ordenado sacerdote e, quatro anos depois, consagrado bispo, tornando-se o Bispo de Hipona, a segunda cidade mais importante da África em termos eclesiásticos, que hoje não existe mais. Agostinho serviu como bispo por trinta e cinco anos. Mesmo com muitas viagens e responsabilidades, ele produziu uma vasta quantidade de escritos.

Santo Agostinho foi um dos grandes mestres da Igreja, e pensadores cristãos, tanto católicos quanto protestantes, reconhecem sua importância como teólogo e defensor da fé cristã. Entre seus muitos escritos, os mais famosos são as “Confissões” (c. 400) e “A Cidade de Deus” (após 412). As “Confissões” narram sua vida e conversão; “A Cidade de Deus” contém suas visões sociais e políticas, motivadas pelo colapso de Roma; uma defesa do cristianismo; e uma visão da sociedade cristã ideal. Ele também escreveu várias obras mais puramente teológicas, incluindo ataques ao maniqueísmo e polêmicas contra heresias como o donatismo e o pelagianismo. Alguns de seus tratados foram comentários sobre partes das Escrituras. Seus livros, sermões e cartas foram publicados em muitas línguas e edições, e há uma vasta literatura sobre ele. Ele estabeleceu a regra monástica de Santo Agostinho, e mais de um milênio depois, Martinho Lutero se tornou um monge da Ordem Agostiniana.

Os últimos anos de Santo Agostinho foram marcados pelo caos causado pela invasão das tribos vândalas no Norte da África. Cidade após cidade foi destruída, igrejas foram queimadas e o clero foi disperso. Durante o cerco dos vândalos a Hipona, em 430, Santo Agostinho foi acometido por uma febre e faleceu em 28 de agosto de 430, data em que é atualmente comemorado. Seu corpo foi posteriormente levado para a Sardenha e, no meio do século VIII, foi transferido novamente para a capital da Lombardia, Pavia, onde agora repousa em um esplêndido monumento de mármore na Igreja de São Pedro em Ciel d’Oro.

LEITURA

(De Confissões de Agostinho)

Quando essas severas reflexões me fizeram emergir do íntimo e expuseram toda a minha miséria à contemplação do coração, desencadeou-se uma grande tempestade portadora de copiosa torrente de lágrimas. Para dar-lhes vazão com naturalidade, levantei-me e afastei-me de Alípio, o necessário para que sua presença não me perturbasse, pois a solidão me parecia mais apropriada ao pranto. Alípio percebeu o estado em que me encontrava: o tom da voz embargada pelas lágrimas, ao dizer-lhe alguma coisa, havia-me traído. Levantei-me; ele permaneceu atônito, onde estávamos sentados. Deixei-me, não sei como, cair debaixo de uma figueira e dei livre curso às lágrimas, que jorravam de meus olhos aos borbotões, como sacrifício agradável a ti. E muitas coisas eu te disse, não exatamente nestes termos, mas com o seguinte sentido: “E tu, Senhor, até quando? Até quando continuarás irritado? Não te lembres de nossas culpas passadas”! Sentia-me ainda preso ao passado, e por isso gritava desesperadamente: “Por quanto tempo, por quanto tempo direi ainda: amanhã, amanhã? Por que não agora? Por que não pôr fim agora à minha indignidade?”

Assim falava e chorava, oprimido pela mais amarga dor do coração. Eis que, de repente, ouço uma voz vinda da casa vizinha. Parecia de um menino ou menina repetindo continuamente uma canção: “Toma e lê, toma e lê”. Mudei de semblante e comecei com a máxima atenção a observar se se tratava de alguma cantilena que as crianças gostam de repetir em seus jogos. Não me lembrava, porém, de tê-la ouvido antes. Reprimi o pranto e levantei-me. A única interpretação possível, para mim, era a de uma ordem divina para abrir o livro e ler as primeiras palavras que encontrasse. Tinha ouvido que Antão, assistindo por acaso a uma leitura evangélica, sentiu um chamado, como se a passagem lida fosse pessoalmente dirigida a ele: “Vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me”. E logo, através dessa mensagem, converteu-se a ti. Apressado, voltei ao lugar onde Alípio ficara sentado, pois, ao levantar-me, havia deixado aí o livro do Apóstolo. Peguei-o, abri e li em silêncio o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar: “Não em orgias e bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis satisfazer os desejos da carne”. Não quis ler mais, nem era necessário. Mal terminara a leitura dessa frase, dissiparam-se em mim todas as trevas da dúvida, como se penetrasse no meu coração uma luz de certeza.

- AGOSTINHO, Confissões.  A Conversão: Toma e lê! In Patrística: Santo Agostinho, Confissões. Editora Paulus.

Cor Litúrgica: Branco

Prefácio Próprio: A Santíssima Trindade

Leituras Bíblicas:

                + Primeira Leitura: Provérbios 3.1-7

                + Salmodia: Salmo 119.89-104

                + Segunda Leitura: 1Coríntios 2.6-10; 13-16

                + Santo Evangelho: João 17.18-23

 ORAÇÃO DO DIA

Ó Senhor Deus, luz das mentes que te conhecem, vida das almas que te amam e força dos corações que te servem, concede-nos força para seguir o exemplo de teu servo Agostinho de Hipona, de modo que, conhecendo a ti, possamos te amar verdadeiramente, e amando a ti, possamos te servir inteiramente – pois servir-te é a perfeita liberdade; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

 —  As informações sobre história, cor litúrgica, prefácio próprio e leituras bíblicas da comemoração foram retiradas do livro Festivals and Commemorations: handbook to the calendar in Lutheran Book of Worship de Philip H. Pfatteicher, publicado pela Augusburg Publishing House, 1980. A Oração do Dia é retirado de Treasury of Daily Prayer, publicado pela Concordia Publishing House, 2008. 

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