Trago uma tradução e adaptação de um texto muito oportuno do Rev. Larry Beane sobre evangelismo e liturgia. Este texto reflete sobre como a liturgia, por meio de suas cerimônias e práticas, é uma poderosa ferramenta de ensino e confissão da fé cristã.
Por Rev. Larry Beane
As cerimônias ensinam. Primordialmente, elas ensinam o que é necessário saber sobre Cristo (CA 24.4). E fazem isso por meio de uma combinação de instrução verbal e não verbal. Da mesma forma que cônjuges e pais comunicam e expressam amor por suas famílias tanto com palavras quanto com gestos, a liturgia faz o mesmo: pelas palavras pronunciadas (que são a Palavra de Deus) e pela maneira física com que lidamos e reagimos a essa Palavra — ou seja, a confissão da nossa fé em ações.
Cerimônias ensinam por meio da confissão. Nosso ensino e confissão são recebidos tanto por crentes quanto por descrentes, por aqueles que confessam a fé conosco e por cristãos de outras tradições. Todos aprendem com a nossa liturgia, mesmo que seja apenas para compreender o que cremos.
O valor que atribuímos à Palavra de Deus é transmitido pelo cuidado e reverência com que a apresentamos. Cerimônias como pronunciar a Palavra de forma solene, levantar-se para o Evangelho ou realizar uma procissão com o livro do Evangelho ensinam sobre Cristo e confessam o que cremos sobre a santidade e primazia das Sagradas Escrituras.
Quando um presidente, um general ou um CEO decide falar pessoalmente, isso demonstra que sua mensagem é de grande relevância. Por outro lado, se ele permanece ausente e delega a comunicação a outros, transmite a impressão de que o conteúdo a ser compartilhado não é de suma importância. Da mesma forma, quando o próprio pastor é quem proclama as Escrituras — especialmente o Evangelho —, ele ensina à congregação que essas palavras são incomparáveis, dotadas de uma importância vital e uma urgência singular, pois nelas ouvimos a própria voz de Deus para o seu povo. Mas, se permitimos que qualquer pessoa proclame a Palavra — homens, mulheres, crianças, pessoas sem preparo adequado, vestidas de forma casual e que tratam o altar com pouca reverência —, isso transmite uma casualidade não intencional, em desacordo com a reverência luterana pela poderosa Palavra de Deus.
Quando pastores abandonam cerimônias na leitura do Evangelho, vestem-se de forma desleixada ou transformam a leitura num espetáculo, estão, na prática, igualando-a a uma letra de música popular ou a um roteiro de programa de TV, em vez da Palavra milagrosa de Deus.
O mesmo se aplica à celebração do Sacramento do Altar. O papel do pastor não é apenas pronunciar as palavras da instituição e distribuir os elementos. Isso é apenas parte da tarefa. Deve-se fazê-lo de modo a ensinar o que é necessário saber sobre Cristo e permitir que a congregação confesse sua fé também por meio de suas atitudes. Se o pastor trata a consagração com descaso, apressa-se nas palavras e não demonstra reverência em seus gestos, está transmitindo a ideia de que não cremos, de fato, na Presença Real.
Essa realidade é ilustrada por um exemplo pessoal: uma aluna brilhante, criada na fé luterana, ficou surpresa ao descobrir, em uma aula que confessamos a Presença Real. Ela pensava que os elementos eram apenas simbólicos. Acredito que seu pastor involuntariamente lhe ensinou isso de forma não verbal, mas ela “aprendeu” essa ideia por meio das práticas litúrgicas de sua congregação.
A casualidade no culto ensina — e confessa — algo contrário ao que professamos oficialmente. Esse é o motivo pelo qual um confirmando pode aprender todas as palavras corretas na sala de aula, mas concluir algo totalmente diferente ao observar a prática litúrgica (a teoria diferente da prática).
O culto litúrgico, com sua profundidade e reverência, pode ser uma poderosa ferramenta evangelística, especialmente em um mundo que busca o que é autêntico e significativo. Jovens, cansados da superficialidade da cultura contemporânea, vem buscando e encontrando na liturgia um convite ao sagrado, ao eterno e uma confissão profunda e histórica da fé na Palavra e no Sacramento, uma confissão reverente e litúrgica que não idolatra nem deixa de lado a tradição. A liturgia proclama o Evangelho não apenas com palavras, mas também com gestos, posturas e símbolos que testemunham a fé da Igreja.
Somos reverentes por causa da nossa confissão de fé e, ao mesmo tempo, desfrutamos da liberdade cristã que nos afasta de uma adoração marcada por um legalismo rígido. Temos, de fato, a liberdade celebrarmos culto em um ginásio, no capô de um jipe, em uma igreja bombardeada, em um salão de beleza, em um hospital, ou em qualquer outro lugar. Também somos livres para acolher variações na maneira como cada celebrante conduz o culto. No entanto, a pergunta que devemos nos fazer é: como estamos usando essa liberdade? Estamos realmente confessando nossa fé da melhor forma possível, com os recursos e oportunidades que temos?
Defendo que a liturgia é, de fato, evangelística — especialmente em nossos dias, quando muitos jovens buscam algo mais profundo e enraizado na tradição. Eles já estão imersos em superficialidade, cercados por uma vida virtual fragmentada e desconectada. Testemunharam a devastação de uma cultura sem Deus: marcada pela distorção da identidade, pelo narcisismo raso e por uma religiosidade neognóstica do tipo "faça você mesmo". A chamada adoração contemporânea, muitas vezes, nada mais é do que a acomodação e a inserção da própria cultura secular dentro do Lugar Santíssimo.
É por isso que considero a piedade litúrgica uma poderosa ferramenta evangelística: ela proclama o Evangelho de forma não verbal aos fiéis e confessa com clareza a verdade da fé cristã tanto aos descrentes quanto aos cristãos de outras tradições. Nossa confissão deve ser explícita e inequívoca, tanto no que ensinamos quanto na forma como adoramos. Afinal, as cerimônias ensinam. Elas falam, mesmo em silêncio, transmitindo o que cremos e confessamos.
Recentemente, uma jovem chamada Megan, se converteu ao luteranismo e se uniu a uma congregação da LCMS. Sua amiga e coapresentadora de um podcast no YouTube, Jacque — uma católica romana devota —, visitou a congregação de Megan para um culto e compartilhou suas impressões. Jacque concluiu que os luteranos não veem a Eucaristia como o clímax do culto e que a consagração não é enfatizada tanto quanto na Igreja Católica Romana. Ela descreveu a liturgia como “casual”, embora tenha admitido que não fosse exatamente essa a palavra que procurava. Ainda assim, essa foi a impressão predominante.
Deveria “casual” ser a impressão de alguém sobre a miraculosa Presença de Deus Encarnado em nosso meio na Palavra e no Sacramento? Os luteranos deveriam se envergonhar disso. E, como o podcast delas está disponível para qualquer pessoa no mundo, essa foi uma oportunidade perdida de evangelismo.
A impressão de Jacque de que a consagração é minimizada no luteranismo é, na verdade, o oposto. Os confessores luteranos enfatizavam a consagração em relação à Igreja Romana, pois é a Palavra — a verba Christi — que consagra os elementos, com a voz do pastor simplesmente repetindo as palavras de Jesus. Antes da Reforma (como ainda vemos na Missa Tridentina), as Palavras da Instituição eram inaudíveis. Os luteranos restauraram a verba — não apenas na língua vernácula, mas para ser ouvida distintamente pelo povo. Lutero instou o celebrante a falar — ou melhor ainda, cantar — a verba com clareza e reverência.
Ironicamente, quando luteranos “de uma certa idade”, que “foram luteranos a vida toda”, protestam dizendo que isso é “muito católico”, estão profundamente enganados. Esse foi um ajuste litúrgico contra Roma, que enfatizou, em vez de minimizar, a consagração.
Além disso, o hinário luterano inclui a rubrica do sinal da cruz duas vezes durante a consagração — uma vez para o pão/Corpo e outra para o vinho/Sangeu. Essas rubricas não estão lá para diminuir a importância da consagração, mas para reforçá-la. São gestos pastorais que confirmam as palavras do Senhor.
Minha prática como celebrante é tanto ajoelhar quanto elevar os elementos durante a consagração. Nunca celebrei de outra forma. Nos últimos anos, minha congregação também adicionou sinos de mão à cerimônia da consagração. Canto as Palavras da Instituição sem pressa, enfatizando deliberadamente a palavra “é” e desacelerando para destacar o que o “é” significa. Também usamos incenso em nossos cultos — não todas as semanas, mas o turíbulo está sempre presente no altar, próximo a um ícone com uma vela votiva.
Tendo em mente as limitações — tanto arquitetônicas quanto pastorais —, nós, pastores, devemos ser intencionais ao evangelizar e confessar não verbalmente. E os líderes leigos devem apoiar seus pastores quando surgirem críticas inevitáveis. Nossa teologia deve sustentar nossa prática, e nossa prática deve confessar nossa teologia.
E quando visitantes entrarem em nossos templos, deve estar claro o que cremos, ensinamos e confessamos — estejam eles interessados em se unir a nós ou não.
As cerimônias ensinam — e que elas ensinem com fidelidade aquilo que cremos, ensinamos e confessamos.
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