Hoje em dia, quando alguém é acusado de estar apenas “fazendo por fazer”, isso raramente é um elogio. Muitas pessoas acreditam que ser autêntico e espiritual significa ir além do que é apenas físico. No entanto, dentro da tradição cristã, há uma oração simples e antiga que exige justamente isso: um gesto físico. O culto cristão possui uma dimensão corporal muito rica, pois envolve mais do que apenas o coração, a mente, a leitura ou a fala. Ele abrange o corpo inteiro, que foi criado e redimido por Deus.
Por isso, faça o Sinal da Cruz com confiança. Esse gesto expressa a unidade do ser humano como corpo e alma. Além disso, ele testemunha de forma silenciosa para sua família, amigos, colegas e até para desconhecidos que a cruz de Cristo é o centro da sua fé e vida. Mas, acima de tudo, essa mensagem é para quem mais precisa ouvi-la: você mesmo. O Sinal da Cruz nos lembra do que realmente importa e, ao senti-lo em nossa própria pele, essa lembrança se torna ainda mais concreta. Uma prática significativa é tocar a água da pia batismal ao entrar na igreja antes de fazer o Sinal da Cruz.
Talvez alguém argumente: “Mas o Sinal da Cruz não faz parte da minha tradição. Nunca vi isso em minha casa ou na minha igreja, meu pastor nunca mencionou e meus pais nunca me ensinaram.” Na realidade, o Sinal da Cruz faz parte da tradição luterana de várias maneiras.
Primeiro, ele pertence à tradição cristã ocidental, da qual os luteranos fazem parte. Como confessamos na Confissão de Augsburgo:
“Ainda assim, entre nós os ritos antigos são em grande parte diligentemente observados. É, portanto, calúnia desleal dizer que, em nossas igrejas, foram abolidas todas as cerimônias e todas as instituições antigas” (Confissão de Augsburgo, Art. XXI).
E também:
“Nada contribui mais para a conservação da dignidade das cerimônias e para o crescimento da reverência e da piedade entre o povo do que a observância regular das cerimônias nas igrejas” (Confissão de Augsburgo, Art. XXI.
Segundo, no Batismo, o Sinal da Cruz foi feito sobre você, marcando-o como pertencente a Cristo para toda a vida.
Terceiro, mesmo que seu professor de catecismo não tenha mencionado essa prática, Martinho Lutero a incluiu no Catecismo Menor:
“De manhã, ao sair da cama, faça o sinal da santa cruz e diga: ‘Que Deus Pai, Filho e Espírito Santo me guarde. Amém’”.
E novamente:
“À noite, quando você vai para a cama, faça o sinal da santa cruz e diga: ‘Que Deus Pai, Filho e Espírito Santo me guarde. Amém’”.
Se você é luterano, o Catecismo Menor faz parte da sua herança, e, portanto, o Sinal da Cruz também.
As orações mais simples costumam ser as mais ricas. O Sinal da Cruz pode ser a oração mais profunda de todas, pois não precisa nem de palavras. Normalmente, ele é acompanhado pela invocação trinitária (“Em nome do Pai e do + Filho e do Espírito Santo”) que, embora breve, carrega um significado imenso. Fazer o Sinal da Cruz com atenção e devoção nos conecta ao nosso Batismo, quando Cristo nos purificou do pecado pelas mãos do pastor, “em nome do Pai e do + Filho e do Espírito Santo.” Cada vez que repetimos esse gesto, nos lembramos das promessas do Batismo.
Esse gesto também nos lembra da Absolvição, quando ouvimos as palavras: “vos perdoo todos os vossos pecados, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Além disso, reforça que pertencemos a Jesus, cuja redenção cobre todo o nosso ser e molda nossa vida pela sua santa Cruz.
Por isso, o Sinal da Cruz é um hábito precioso na vida de oração. Ele pode ser um clamor pelo auxílio e proteção de Deus em momentos difíceis. Também é um ato de gratidão e alegria em momentos de celebração. E, mesmo quando você não sente nada de especial, esse gesto pode ajudar a unir seu corpo e sua mente em oração e devoção.
O Sinal da Cruz pode parecer simples, mas é rico no seu significado. Em um único gesto, expressamos tantas verdades que seria impossível mencioná-las todas em palavras a cada vez que o fazemos. Ele é como uma aliança de casamento: ao tocar nela, meio que sem perceber, um homem lembra de sua relação com sua esposa. Da mesma forma, o Sinal da Cruz nos lembra que pertencemos a Cristo, que somos parte da Igreja e que temos um Salvador que nos marcou como Seus.
Esse gesto também é como uma armadura invisível que os cristãos vestem ao sair para enfrentar o mundo. Ele nos lembra que devemos ser fortes e corajosos, assim como São Policarpo ouviu quando foi levado ao martírio no século II: "Seja forte e aja como homem." Em Cristo temos nossa identidade, e n'Ele encontramos força e coragem para resistir ao mal. Em Cristo podemos enfrentar qualquer desafio.
Sabemos que o Batismo significa que o velho homem em nós deve morrer todos os dias, junto com seus pecados e desejos maus, para que um novo homem surja e viva em justiça diante de Deus. O Sinal da Cruz pode ser um grande auxílio nessa luta diária de arrependimento e renovação. Ele nos lembra que a cruz representa o sofrimento redentor de Cristo, mas também aponta para a ressurreição.
Quando não souber o que dizer, ou quando houver tanto a dizer que as palavras falham, simplesmente faça o Sinal da Cruz e siga seu dia com alegria.
GABA, Latif. The Sign of the Cross. Gottesdienst, 26 fev. 2025. Disponível em: https://www.gottesdienst.org/gottesblog/2025/2/26/the-sign-of-the-cross.
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