sexta-feira, 13 de junho de 2025

O Reformador e a Freira: 500 anos de uma união histórica

Há exatos 500 anos, em 13 de junho de 1525, Martinho Lutero, então com 42 anos, casou-se com Katharina von Bora, uma ex-freira de 26 anos (1499–1552). Na época, esse ato era considerado um “crime” segundo o direito canônico vigente, passível até de pena de morte, e foi visto por muitos como um escândalo. O casamento dos dois durou vinte e um anos e foi abençoado com seis filhos. Após a morte de Lutero, Katharina ainda viveria por mais seis anos.

A decisão de Lutero de se casar com Katharina teve mais motivações teológicas do que românticas. Ele disse ter feito isso para “agradar seu pai, provocar o papa, fazer os anjos rirem e os demônios chorarem.” Katharina foi a única das ex-freiras do convento de Nimbschen que, após fugirem para Wittenberg em abril de 1523, ainda não havia se casado nem encontrado emprego estável. As demais já haviam se estabelecido. Os motivos que levaram Katharina a aceitar o casamento com Lutero intrigam os historiadores até hoje. Ela recusou diversas propostas de casamento, mas confidenciou ao amigo de Lutero, Nicolaus von Amsdorf, que aceitaria se fosse dele — ou de Lutero! No fim, foi Lutero quem a conquistou, apesar das reservas de amigos como Philipp Melanchthon, que tinham dúvidas tanto sobre o casamento em si quanto sobre Katharina.

Naquele 13 de junho, a cerimônia foi simples e privada, com testemunhas como Justus Jonas, JohannesBugenhagen e o casal Lucas e Barbara Cranach. Mais tarde, em 27 de junho, houve uma recepção pública e festiva. O casal passou a viver no antigo mosteiro agostiniano de Wittenberg — conhecido como “Claustro Negro” — que se tornou não apenas o lar da família, mas também hospedaria, hospital e até cervejaria doméstica, tudo organizado com competência por Katharina, mulher de notável talento e energia.

Mas como seria a vida matrimonial dos Lutero? O contexto em que se casaram era bem distinto daquele dos casamentos dos dias de hoje. A vida familiar certamente foi desafiadora: um teólogo ativo e excomungado, considerado criminoso pelo império, casado com uma mulher que vivera a maior parte da vida enclausurada e que agora era lançada aos olhos do mundo.

O que podemos aprender com o casamento de Lutero e Katharina?
Em uma época como a nossa, onde tantos casamentos são desfeitos com facilidade, muitas vezes por razões superficiais ou pela simples busca de conforto individual, o casamento de Lutero e Katharina nos oferece uma lição valiosa.

Eles não entraram no matrimônio buscando perfeição ou facilidades. Enfrentaram pressões externas, limitações internas, dificuldades financeiras e pessoais. Ainda assim, permaneceram firmes, construindo uma vida juntos baseada em compromisso, respeito mútuo e responsabilidade diante de Deus.

Seu exemplo nos lembra que o casamento cristão não é sustentado por emoções passageiras, mas por uma aliança diante de Deus, em que ambos servem um ao outro em amor e paciência. É uma escola onde se aprende diariamente a perdoar, a recomeçar e a confiar que Deus atua até mesmo nas pequenas tarefas do cotidiano.

O lar de Lutero e Katharina não era um palco de perfeição, mas um local onde o evangelho era vivido de forma concreta: no cuidado com os filhos, na administração dos recursos, no acolhimento aos necessitados, e no encorajamento mútuo nas horas de aflição. Ali, fé e vida andavam de mãos dadas.

Nos tempos atuais, precisamos redescobrir a beleza do casamento como vocação. Em vez de vê-lo como uma prisão ou um contrato frágil, somos chamados a enxergá-lo como um presente de Deus, no qual crescemos, amadurecemos e testemunhamos Cristo em nosso viver diário.

Que o exemplo de Lutero e Katharina nos inspire a valorizar nossos lares e a viver nossos casamentos com coragem, fidelidade e esperança. Que sejamos, como eles, testemunhas do amor de Deus também dentro de casa.

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