sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Homilia para a Festa do Martírio de São João Batista - 2025 A+D


FESTA DO MARTÍRIO DE SÃO JOÃO BATISTA

Homilia: “Até quando, Senhor?”
Apocalipse 6.9-11

“Que a graça do Senhor Jesus Cristo,
o amor de Deus e a presença do Espírito Santo
estejam com todos vocês!” (2Co 13.13) Amém.

Estimados irmãos em Cristo,

Na semana passada nós celebramos a festa de São Bartolomeu, apóstolo do Senhor. Hoje, celebramos o martírio de São João Batista. Vejam: dois sábados seguidos em que a Igreja fala de sofrimento, perseguição e morte. Dois sábados seguidos em que lembramos homens que foram fiéis até o fim. E o que nós temos a aprender com eles? Muito! Porque a vida deles fala também da nossa vida.

A pergunta que a primeira leitura de hoje, Apocalipse 6.1-5, traz é esta: “Até quando, Senhor?” (Ap 6.10). Foi a pergunta dos mártires que João viu debaixo do altar no céu. É também a nossa pergunta, não é? Até quando esse sofrimento vai continuar? Até quando a dor? Até quando as lágrimas? Até quando as injustiças? Até quando as doenças? Até quando as lutas dentro de casa, as brigas no trabalho, as tentações que não nos largam?

Sim, meus irmãos, essa é a pergunta que brota do nosso coração. Perguntamos isso quando vemos a família em crise. Perguntamos quando a saúde não vai bem. Perguntamos quando olhamos as notícias do mundo e vemos tanta violência. Perguntamos até mesmo quando sentimos o peso do nosso próprio pecado, aquele pecado que insiste em nos prender.

E, às vezes, o coração fica cansado. Porque viver neste mundo não é fácil. Como cristãos, somos chamados a nadar contra a correnteza. Enquanto o mundo diz “não tem problema, todo mundo faz”, nós sabemos que não é assim. João Batista foi preso justamente por isso: porque ele teve coragem de dizer a Herodes que não era lícito viver em pecado. (Mc 6.18) Ele preferiu a prisão e a morte a concordar com o erro.

E nós? Quantas vezes nos calamos? Quantas vezes aceitamos o pecado dentro da nossa casa, no nosso jeito de viver, no nosso falar? Quantas vezes deixamos de testemunhar o que é certo, só para não desagradar, só para não enfrentar? É aí que percebemos que o martírio não é só lá fora, com espada na mão. O martírio começa aqui dentro, no coração. Todos os dias precisamos nos martirizar contra o pecado. Todos os dias precisamos morrer para as tentações. Todos os dias precisamos dizer não à carne, não ao diabo, não ao mundo.

Mas graças a Deus, Cristo não nos deixou presos nesse lamento. A resposta à nossa pergunta “Até quando?” não está no nosso esforço, mas no que Deus já fez.

E aqui vem o consolo: esse martírio já começou no batismo. No batismo nós morremos com Cristo. No batismo já fomos sepultados com ele (Rm 6.3-4). Ali aconteceu o nosso primeiro martírio: morremos para o pecado e nascemos de novo para uma vida com Deus.

E por que isso é possível? Porque Cristo passou por um martírio infinitamente maior por nós. Cristo foi preso, como João. Cristo foi morto, como os mártires. Mas Ele venceu! Ressuscitou! E agora, ele mesmo é quem nos dá a vitória, não pela força do nosso sangue, mas pelo sangue que ele derramou por nós. Ele é o Cordeiro, o Sacerdote e o Rei, e nos une a si no batismo. A nossa vida está escondida nele.

 Isso não quer dizer que agora a vida ficou fácil. Não! Pelo contrário. Ainda lutamos contra o pecado. Ainda caímos. Ainda sofremos. Mas no batismo temos a certeza: já fomos unidos à morte e à ressurreição de Cristo (Rm 6.5).

E aqui está a resposta à pergunta: “Até quando, Senhor?”. Os mártires no céu perguntaram isso. Nós aqui na terra também perguntamos. E a resposta de Deus é esta: até o dia em que o número dos seus filhos estiver completo (Ap 6.11). Até o dia em que todos os eleitos forem reunidos. Até o dia em que Jesus voltar. Até lá, Cristo mesmo nos cobre com a veste branca que já recebemos no batismo. Até lá, Ele nos sustenta com sua Palavra e com sua Santa Ceia.

Hoje, aqui no altar da nossa congregação, já nos reunimos com aqueles que estão debaixo do altar no céu. A nossa liturgia é um ensaio da eternidade, onde a dor não mais dirá “até quando”, porque Cristo já nos responde: “Já estou contigo” (Mt 28.20).

Até lá, ele mesmo nos dá força para continuar testemunhando, como João Batista e como Bartolomeu testemunharam.

E quando a morte chegar? Quando nossos olhos se fecharem, o que vai acontecer? Aqui está a boa notícia do Apocalipse: não é o fim! João Batista foi martirizado. Bartolomeu foi martirizado. Nossos entes queridos também morreram, pessoas que tanto amamos. E se Jesus não voltar antes, algo que nós tanto desejamos, porque queremos que todo sofrimento termine, nós também vamos morrer. Mas essa não será a última palavra.

O Apocalipse mostra: nós não vamos ficar vagando pela terra, nem vamos simplesmente dormir no nada. Nós seremos almas vivas diante do trono de Deus. Almas que louvam, que cantam, que adoram o Cordeiro. Assim como os mártires estão debaixo do altar, também nós estaremos seguros, guardados em Cristo. Isso já é a vitória. Isso já é o descanso.

E um dia, o próprio Cristo nos chamará de volta do túmulo. Assim como ele unirá a cabeça de João Batista ao seu corpo, assim também ressuscitará João, Bartolomeu, você e eu, para vivermos com ele para sempre. O corpo e a alma, reunidos e glorificados, vestidos de branco, na presença do Cordeiro (Ap 7.14).

Por isso, irmãos, quando seu coração clamar: “Até quando?”, ouça a resposta do Cordeiro: “Estou contigo”. E siga firme, porque Ele já te vestiu de branco, já te alimenta com seu corpo e sangue, e logo, muito em breve, te chamará pelo nome. E você ouvirá: “Venham, benditos de meu Pai” (Mt 25.34).

Confiem nisso. Vivam nessa esperança. E sejam fiéis, como João e Bartolomeu foram. Porque o Senhor promete: “Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida.” (Ap 2.10). Amém.

 Rev. Filipe Schuambach Lopes

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