FESTA DE SÃO MATEUS, APÓSTOLO E EVANGELISTA
Ezequiel 2.8-3.11 | Efésios 4.7-16 | São Mateus 9.9-13
Homilia: “Cristo, o Médico dos pecadores”.
Mateus 9.9-13
“Que o Senhor Jesus Cristo derrame sobre vocês a sua graça, que o amor do nosso Deus os envolva e que a comunhão do Espírito Santo esteja sempre presente na vida de cada um.” Amém. (2Co 13.13).
Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
Imaginem alguém bem doente, mas que insiste em dizer que está bem. Talvez já tenham visto isso acontecer: a pessoa sente dor, o corpo dá sinais claros de que algo não está certo, mas ela não procura ajuda. Finge que nada está acontecendo. Pode ser por orgulho, por medo, ou porque não quer mudar hábitos que lhe fazem mal. O problema é que a doença continua crescendo em silêncio e, quando percebe, pode ser tarde demais. Todos nós sabemos que, quando a gente está doente, a melhor coisa é reconhecer isso e procurar um médico.
No Evangelho de hoje, Jesus nos mostra que espiritualmente acontece a mesma coisa. Ele chama Mateus, um cobrador de impostos. Mateus era rejeitado por todos, era visto como traidor, pecador público, alguém sem esperança de estar perto de Deus. Mas Jesus olha para ele de um jeito diferente. Para a sociedade, Mateus estava perdido. Para Jesus, Mateus era justamente o tipo de pessoa para quem Ele tinha vindo. Jesus se aproxima, chama, e Mateus se levanta, deixa tudo e começa a segui-lo.
Os fariseus ficam escandalizados. Como assim Jesus vai se sentar à mesa com pecadores e publicanos? Isso era demais para eles. Mas Jesus responde com aquela frase que até hoje aquece o nosso coração: “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes.”
Essa é a chave para entendermos não só a vida de Mateus, mas também a nossa. Todos nós estamos espiritualmente doentes. O pecado não é um machucadinho leve, é uma doença mortal que atinge a todos. Ele contamina os pensamentos, as palavras, os desejos e as atitudes. Ele se mostra no egoísmo que estraga nossos relacionamentos, na cobiça que nunca se satisfaz, na mentira que quebra a confiança, na incredulidade que nos afasta do Criador. Muitas vezes a gente tenta esconder essa doença. Tentamos nos convencer de que estamos bem, de que somos “bons o suficiente”. Mas isso é como um paciente que finge estar saudável, mesmo sabendo que está piorando por dentro.
Muitas vezes, queridos, a gente age como se fosse “são” espiritualmente. É quando achamos que não precisamos mudar nada na nossa vida. É quando justificamos nossos pecados dizendo: “todo mundo faz isso”, ou quando apontamos os erros dos outros para disfarçar os nossos. É quando escondemos mágoas e rancores e deixamos que isso envenene nosso coração. É quando o dinheiro, o trabalho ou as redes sociais ocupam mais tempo do que a Palavra de Deus e a oração. É quando dizemos que não temos tempo para estar no culto, mas arrumamos tempo para tantas outras coisas. Tudo isso mostra como estamos doentes, mas muitas vezes não queremos admitir.
Mas, queridos, é justamente nessas feridas do nosso dia a dia que o Médico dos pecadores aplica seu remédio. Para o coração cheio de rancor, Ele oferece o perdão que limpa e renova. Para a vida dominada pela pressa e pelo cansaço, Ele nos dá descanso na sua presença. Para o vazio que tentamos preencher com dinheiro, prazer ou reconhecimento, Ele nos lembra que já temos um tesouro eterno: somos filhos de Deus. E quando achamos que não temos tempo para o culto, Ele vem até nós, chamando com amor: “Segue-me.” Ele não nos rejeita por causa da nossa doença, mas nos acolhe exatamente porque precisamos dEle. No Batismo, Ele nos lavou. Na sua Palavra, Ele nos consola. Na Santa Ceia, Ele coloca em nossas mãos o verdadeiro remédio de imortalidade, garantindo que já não somos escravos da morte, mas herdeiros da vida eterna.
E aqui está a beleza do Evangelho: Jesus é o Médico dos pecadores. Ele não veio para quem acha que não precisa de ajuda. Ele veio para quem reconhece que está fraco, perdido, doente. Ele não veio para os que confiam em si mesmos, mas para os que sabem que precisam dEle. E o que Ele faz é muito maior do que qualquer médico terreno. Ele não trata só os sintomas, Ele vai direto na raiz da doença. Ele tomou sobre si o nosso pecado, nossa morte, nossa condenação. Na cruz, como disse o profeta Isaías, Ele carregou as nossas enfermidades e levou as nossas dores. Ali, o Médico dos pecadores entregou a própria vida para nos dar cura completa.
E qual é o tratamento que Ele nos oferece? É a Palavra que anuncia perdão e cria fé. É a água do Batismo, que lava e regenera. É o pão e o vinho da Santa Ceia, que trazem o corpo e o sangue de Jesus como verdadeiro remédio de vida eterna. Não é à toa que já no século II, Santo Inácio de Antioquia chamou a Eucaristia de “remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, mas para viver em Jesus Cristo para sempre.” É isso que recebemos quando nos aproximamos da mesa do Senhor: o próprio Cristo, que cura nossa alma e nos garante a vida que não acaba.
E quando experimentamos essa cura em Cristo, nossa vida muda. Mateus se levantou da mesa de impostos e deixou para trás sua antiga vida. Ele se tornou apóstolo e evangelista, usado por Deus para levar a muitos o mesmo remédio que recebeu. E o Evangelho que ele escreveu continua ecoando até hoje: “Quero misericórdia, e não sacrifício. Pois não vim chamar justos, e sim pecadores.” Assim também nós, curados pelo Médico divino, somos chamados a viver como testemunhas da sua graça. Não como pessoas perfeitas, mas como doentes que encontraram a cura.
A Igreja é esse hospital de graça. Aqui, ninguém é rejeitado. Aqui, não precisamos esconder nossos pecados. Aqui, todos nós somos pacientes que precisam do mesmo Médico. E aqui, nesse lugar, Cristo nos atende de graça, nos perdoa, nos fortalece e nos envia para viver em amor e misericórdia.
É por isso que hoje celebramos São Mateus. Não porque ele foi cobrador de impostos, mas porque foi transformado pelo chamado de Jesus. Celebramos o apóstolo e evangelista que testemunhou que Cristo veio salvar pecadores. E esse mesmo Cristo está aqui hoje, chamando cada um de nós com as mesmas palavras que disse a Mateus: “Segue-me.” Ele não olha para nós com desprezo, mas com amor. Ele nos lembra: eu não vim para os que acham que estão bem, mas para os que sabem que precisam de mim. Eu sou o Médico, e vocês são os doentes que eu vim curar.
Queridos irmãos, vamos voltar à ilustração do começo. Quando alguém está doente, mas insiste em negar, corre o risco de perder a vida. Espiritualmente, acontece o mesmo. Se fingirmos que não precisamos de Cristo, estamos rejeitando o único tratamento que pode nos salvar. Mas quando reconhecemos nossa doença e corremos para os braços do Médico dos pecadores, recebemos cura, perdão e vida nova. E hoje Ele nos chama para a sua mesa, onde o remédio de imortalidade é dado de graça. Vamos com fé, receber esse bálsamo do Evangelho e sair daqui fortalecidos para viver em sua graça. Amém.
E que a paz de Deus, essa paz que vai muito além do que conseguimos entender, cuide com carinho do coração e da mente de cada um de vocês, mantendo-os firmes no amor e na vida que temos em Cristo Jesus, o nosso Médico e Salvador. Amém.
Rev. Filipe Schumbach Lopes
21/09/2025
21/09/2025
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