No próximo domingo, a
Igreja Cristã estará celebrando um novo tempo: o tempo pós-Pentecostes. Este
novo tempo começa de maneira especial, com a Festa da Santíssima Trindade. Após
ter celebrado as três pessoas da Trindade individualmente (Natal, Páscoa e
Pentecostes), a Igreja agora celebra o único e verdadeiro Deus - a Santíssima
Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
Uma das tradições atrelada
à esta celebração é a recitação do Credo Atanasiano durante o Culto Divino.
O Credo tem o nome de Atanásio, que foi o principal teólogo por trás dos
argumentos que levaram ao Credo Niceno. Pode-se ter a impressão errada de que
Atanásio escreveu este credo, mas não. Ele foi escrito muito depois de sua
morte, provavelmente em algum momento do século VI. O texto original foi
escrito em latim, e assim foi usado na igreja ocidental de língua latina, em
vez de no Oriente. Não há registro da época ou lugar da escrita desta
declaração de fé, mas ela tem sido usada por muitos séculos na igreja
ocidental. O credo em si foi provavelmente montado especificamente para uso em
culto público porque a linguagem do culto permeia este documento.
É uma noção equivocada de muitos que acabam de começar a estudar a história
da Igreja que os arianos, que foram refutados no Concílio de Nicéia (325 d.C),
desapareceram após este concíio ter rejeitados os ensinamentos dos arianos.[1]
Infelizmente, a heresia ariana levou muitos séculos para gradualmente se
dissipar. Ainda hoje, ela existe de alguma forma. Os arianos foram uma força
forte por muitos séculos após o Concílio de Nicéia, e até mesmo convocaram seus
próprios conselhos, o que condenou as decisões de Nicéia. Assim, enquanto o
Credo Atanasiano provavelmente não foi escrito com um concílio ou controvérsia
em mente, ele foi escrito numa época em que muitos continuavam a rejeitar a
doutrina ortodoxa da Trindade. O Credo Atanasiano ajuda a proteger contra os
arianos e outros grupos que rejeitam a divindade do Filho e a personificação do
Espírito.
Ao contrário do Credo Apostólico e da forma do Credo Niceno usado no culto
público, o Credo Atanasiano inclui não apenas uma declaração de doutrina, mas
também uma refutação de heresia. Esta declaração de fé começa com a afirmação
de que “aquele que quiser ser salvo, antes de tudo deverá ter a verdadeira
fé cristã”. Da mesma forma, o Credo termina com a afirmação de que “esta
é a verdadeira fé cristã. Aquele que não
crer com firmeza e fidelidade, não poderá ser salvo”. Além disso, todos
aqueles que rejeitam a teologia trinitária ortodoxa estão condenados à perdição
eterna. Estes ensinamentos não são apenas um exercício nas questões teóricas ou
filosóficas; a própria salvação está em jogo dependendo de quem se confessa que
Deus é.
Na Idade Média, o Credo Atanasiano era comumente confessado no culto
público.[2]
Desde aquela época, seu uso tem diminuído gradualmente. Não há nenhuma razão
teológica particular para este declínio. O Credo é simplesmente muito longo, e
a maioria das congregações não deseja repetir algo tão longo em cada culto.
Isto não significa, no entanto, que o credo nunca seja usado hoje. Ele é lido,
como afirmado acima, pelo menos uma vez por ano, na Festa da Santíssima
Trindade, quando a igreja contempla o mistério do Deus Triúno que se revelou na
Escritura.
Texto litúrgico utilizado atualmente:[3]
P Aquele que quiser
ser salvo, antes de tudo deverá ter a verdadeira fé cristã.
P E a verdadeira fé
cristã é esta,
P não confundindo as
pessoas nem dividindo a substância divina.
P Mas o Pai, o Filho
e o Espírito Santo são um único Deus,
P
& C
Qual
o Pai, tal o Filho, tal o Espírito Santo.
P O Pai é incriado,
o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado.
P O Pai é eterno, o
Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.
C Da mesma maneira,
o Pai é todo-poderoso,
o
Filho é todo-poderoso, o Espírito Santo é todo-poderoso;
P contudo não são três
Todo-Poderosos, mas um único Todo-Poderoso.
P todavia, não são
três Deuses, mas um único Deus.
o
Espírito Santo é Senhor.
P entretanto não são
três Senhores, mas um único Senhor.
P O Espírito Santo
não foi feito, nem criado, nem gerado pelo Pai e pelo Filho,
C Logo, é um único
Pai, não são três pais; um único Filho, não três Filhos;
P E nesta Trindade
nenhuma pessoa é anterior ou posterior, nenhuma maior ou menor.
P
& C
de
modo que, como foi dito,
em
tudo seja honrada a Trindade na Unidade e a Unidade na Trindade.
P
Portanto,
quem quiser ser salvo, deverá pensar assim da Trindade.
P Esta é, portanto,
a fé verdadeira:
P É Deus da
substância com o Pai, gerado antes dos tempos,
C Deus perfeito e
Homem perfeito, subsistindo em alma racional e carne humana.
P
Igual
ao Pai segundo a divindade e menor do que o Pai segundo a humanidade.
P um só, não pela
transformação da divindade em humanidade,
C É, de fato, um só,
não pela fusão das duas substâncias,
P Pois, assim como o
corpo e alma racional constituem um único homem,
C o qual padeceu
pela nossa salvação, desceu ao inferno,
C E quando vier,
todos os homens
hão
de ressuscitar
P e aqueles que
fizeram o bem irão para a vida eterna,
P
& C
Esta
é a verdadeira fé cristã.
[1] Os arianos acreditavam que o Filho
de Deus não era eterno ou divino em essência. O Filho foi o primeiro e maior de
toda a criação, mas ainda assim uma criação de Deus Pai em vez de uma eterna
pessoa divina. O debate sobre a divindade de Cristo continuou por muitos
séculos, e a posição de que Cristo é totalmente divino foi tomada por Atanásio,
que se tornou um dos teólogos mais influentes na história da igreja cristã.
[2]
O Credo Atanasiano não
recebeu reconhecimento “oficial” até a Reforma. Foi adotado pelos luteranos na
Confissão de Augsburgo (1530) e incluído no Livro da Concórdia (1580). A Igreja
Católica Romana o reconheceu no Concílio de Trento (1545-1563). Além disso, foi
aceito pela maioria dos ramos protestantes que surgiram durante a Reforma, como
a Igreja da Inglaterra e as confissões reformadas.
[3] Conforme o Hinário da Igreja
Evangélica Luterana do Brasil.
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