"Massacre dos Inocentes", Peter Paul Rubens, 1636–1638 (Alte Pinakothek) |
Mateus nos relata o contexto trágico deste dia. Após o nascimento de Jesus em Belém, magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém em busca do "Rei dos Judeus". Guiados por uma estrela, eles finalmente encontraram o menino Jesus, oferecendo-lhe presentes de ouro, incenso e mirra, símbolos de sua realeza, divindade e sacrifício futuro. Alertados em sonho para não retornar a Herodes, os magos partiram por outro caminho. Herodes, percebendo que havia sido enganado, ordenou o assassinato de todos os meninos de dois anos ou menos em Belém e arredores, na tentativa de destruir o suposto rival ao seu trono (Mt 2.13-18).
Esses inocentes, cujas vidas foram ceifadas, não por decisão própria, mas pela brutalidade de Herodes, são lembrados pela Igreja como mártires de Cristo. Sua morte cumpre a profecia de Jeremias: "Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e recusando ser consolada, porque já não existem" (Jr 31.15). Esse lamento ecoa através da história, relembrando a dor de vidas tiradas injustamente e a maldade que o pecado provoca no mundo.
No entanto, essa tragédia não é o fim. Esses pequeninos morreram por aquele que, mais tarde, morreria por eles – e por nós. O Menino que escapou da espada de Herodes cresceu para enfrentar a cruz, os espinhos e os pregos, garantindo nossa redenção eterna. Ele é o Cordeiro de Deus, cujo sangue traz paz e reconciliação. Como João nos lembra em Apocalipse, "pertencemos àqueles que seguem o Cordeiro por onde quer que ele vá" (Ap 14.4).
Os Santos Inocentes são um testemunho não apenas da brutalidade humana, mas também da graça divina. Embora não fossem livres de pecado, como o Salmo 51 nos lembra, eles foram tornados santos pela graça de Deus através da circuncisão, o "sacramento" da Antiga Aliança, que apontava para o Salvador vindouro. Assim como eles foram declarados santos pela promessa de Deus, nós também o somos, agora pelo sacramento do Batismo. Nele, recebemos a santidade e a inocência de Cristo, que cumpriu toda a Lei em nosso lugar e carregou nossos pecados (Rm 6.3-4).
A cor litúrgica vermelha deste dia simboliza o sangue derramado por esses pequeninos e por tantos outros mártires que seguiram ao longo da história da Igreja. O vermelho aponta para o sacrifício supremo de Cristo, que derramou seu sangue para salvar o mundo, dando-nos vida em abundância (Jo 10.10).
A festa dos Santos Inocentes, celebrada já no século IV, nos conecta à tradição antiga da Igreja, que reconhece a profundidade do sacrifício e da redenção. Ao refletirmos sobre este dia, somos chamados a nos voltar para o Cordeiro de Deus, que transforma o sofrimento em vitória e a morte em vida eterna. Como oração do dia nos ensina, pedimos que Deus faça morrer em nós tudo o que está em conflito com a sua vontade, para que nossas vidas testemunhem a fé que professamos.
Que possamos encontrar conforto na promessa de Cristo, o Cordeiro que enxuga todas as lágrimas e garante a paz eterna. Que o testemunho silencioso dos Santos Inocentes nos inspire a viver nossa fé com coragem e gratidão, reconhecendo que, em Cristo, somos santos e inocentes pela graça de Deus.
Leituras bíblicas
† Primeira Leitura: Jeremias 31.15-17
† Salmo: Salmo 54
† Segunda Leitura: Apocalipse 14.1-5
† Evangelho: S. Mateus 2.13-18
† Segunda Leitura: Apocalipse 14.1-5
† Evangelho: S. Mateus 2.13-18
Todo-poderoso Deus, os mártires inocentes de Belém manifestaram publicamente teu louvor, não pelo falar, mas pelo morrer. Faz morrer em nós tudo que está em conflito com a tua vontade, para que nossas vidas possam dar testemunho da fé que professamos com os nossos lábios; através de Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
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